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A cidade “Start Up”, por Cátia Miriam Costa

A cidade “Start Up”

Os edifícios emblemáticos persistem e parte daquele ambiente também, sobretudo os contrastes que a cidade ainda hoje oferece. O autor fala-nos de uma cidade de encontros e desencontros, em que a guerra é longínqua. Uma cidade pacata, de brandos costumes, mas também de resiliência e adaptação aos tempos que se viviam.

Entre espiões, refugiados e gente de passagem, a cidade enchia-se de novas oportunidades para o negócio e eram muitos os que tentavam contrariar uma sociedade mantida fechada e conservadora. Hoje, das senhoras que vendiam os bolos fritos (bolas de Berlim) por necessidade, aos galegos que mantinham os tascos típicos e as iscas com elas ou sem elas, diríamos que eram empreendedores.

A situação obrigava a cidade, controlada é certo, a abrir-se ao mundo e a oferecer, afinal, as condições de paz e estabilidade mínimas.

Esta viagem espacial e temporal por Lisboa pareceu-me ainda mais interessante, porque começou, na passada segunda-feira, mais uma Semana do Empreendedorismo de Lisboa, que decorre até sexta-feira e pretende afirmar Lisboa como uma “Start Up City”. É a terceira vez que se realiza esta iniciativa, sendo organizada pela Direção Municipal de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa e congregando mais de 30 parceiros. Entre várias atividades, inclui a inauguração de um espaço para incubação, “Startup Campus”, a apresentação de casos de sucesso, o “Lisbon Funding Day” para colocar em contacto investidores e ideias de negócio, um workshop sobre a resiliência do empreendedor e a confrontação entre a história e a tecnologia como potenciadores de mais ideias empreendedoras.

Que relação entre esta cidade dos anos 40 do século XX e a cidade atual? Lisboa, tal como o resto de Portugal, destaca-se por essa capacidade de adaptação e pelo gosto de acolher o visitante de curta ou de longa duração. Senão vejamos: perante uma crise difícil e uma intervenção externa que está perto do final, pelo menos na sua forma mais direta, a sociedade civil respondeu apostando nas exportações não só externas como internas (turismo e programas de ensino para estrangeiros, por exemplo). Nos anos 40, numa Europa dilacerada pela guerra e num país amordaçado por uma ditadura, existiam pequenos focos de criatividade e foi assim que alguns pequenos negócios prosperaram e que o encontro de tão diferentes pessoas pôde ser proporcionado.

Afinal, talvez a característica mais atraente desta e de outras cidades portuguesas seja essa mesma: a capacidade de se renovar através da criatividade e de arrancar novos projetos a uma realidade que, por vezes, não condiz com os anseios gerais. Lisboa tem potencial para cidade “start up”, tal como o são tantas outras de norte a sul do país, onde estão as indústrias criativas, a recriação da tradição, a aposta em segmentos de mercado ainda não cobertos e a valorização do património material e imaterial.

Isto demonstra que o encontro das vontades políticas com as vontades da sociedade civil pode dar excelentes resultados. Esta é a marca definitiva da resiliência que estes espaços urbanos testemunham desde há muito. Antes até de o conceito empreendedorismo aparecer e em contextos em que a criatividade e inovação eram apenas vistas como “desenrascanço”, palavra tão portuguesa que agora parece ir caindo em desuso.

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