Ref.: POCI/AFR/59228/2004 e PTDC/AFR/72258/2006
Funding institution(s): FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia
Keywords: comparative management, China, Africa, management practices
Abstract
A África em geral e alguns países africanos de lingua oficial portuguesa (PALOPs) em particular têm vindo a aumentar a sua importância estratégica junto das empresas ocidentais mas também, mais recentemente, das chinesas. Enquanto a presença ocidental é estudada desde há muito, a crescente influência da China no continente africano tem sido relativamente negligenciada no meio académico. O discurso oficial chinês releva a longa história de amizade com a África que remonta ao século XIV quando o navegador Zheng De visitou a costa oriental africana, mas foi apenas após a Conferência de Bandung em 1955, quando os “cinco princípios de coexistência pacífica” foram declarados, que a China começou a fazer sentir de uma forma mais eficaz a sua influência. É evidente que a China vê a África como um parceiro estratégico essencial ao prosseguimento dos seus objectivos económicos e geopolíticos e, com um pé num mundo em desenvolvimento e o outro no mundo desenvolvido, a sua posição é sem dúvida privilegiada. As transacções comerciais entre a China e a África aumentaram de US$ 2,64 biliões em 1994 para US$ 39,7 biliões em 2005 (China Daily, 06-08-16) e crescem a uma taxa superior à do comércio da China com o resto do mundo.
Mas a China vai além das meras transacções comerciais ou da procura de activos essenciais como o petróleo e está já a ganhar posição em empresas africanas. A um nível micro, não apenas o governo chinês está a apoiar a entrada das empresas estatais em África como também os empresários privados estão a suplantar, a uma velocidade inimaginável, os pequenos comerciantes e produtores locais nas ruas das cidades africanas. A China é já o terceiro maior investidor no continente. O nosso estudo foca precisamente o impacto deste unilateralismo na paisagem empresarial africana com consequências para a região e para o mundo. Estudaremos em particular os casos de Angola, Cabo Verde e Moçambique, os três PALOPs onde este fenómeno é mais significativo orientados pelas seguintes perguntas: quais as características das configurações empresariais africanas? E das chinesas? Qual poderá ser o impacto da esmagadora presença de empreendedores chineses nas configurações empresariais dos PALOPs estudados, com as suas práticas e filosofia de gestão próprias, estilo de liderança e orientação empreendedora? E, mais importante ainda, dado o notável crescimento da RPC, devido em parte à capacidade dos seus empreendedores, o que poderão os PALOPs aprender com a China? Finalmente, o que poderão Portugal, a Europa e o Ocidente aprender com a subtileza do padrão de relações que se está construindo, a nível empresarial, entre a China e a África e os PALOPs estudados em particular? O problema a abordar é o que resulta do vazio na compreensão e consciencialização da especiosidade do impacto do empresarialismo chinês na paisagem empresarial africana e na aprendizagem que daí poderá advir.
A crescente influência da China em África não deixa de atrair a atenção de muitos analistas mas o modus operandi específico de empreendedores locais e chineses, actores essenciais deste fenómeno, não terá sido ainda profundamente estudado. A ausência de investigação nesta área, a que se junta a inegável importância do assunto a nível mundial, motivou o nosso projecto. Mas foi também a possibilidade de capitalizarmos: (i) o conhecimento colectivo acumulado por Portugal ao longo de séculos de interacção entre a África e a Ásia; (ii) a circunstância excepcional de reunirmos um grupo de investigadores e consultores portugueses com larga experiência da envolvente africana e chinesa; (iii) um grupo de académicos estrangeiros e de investigadores nos países a estudar, incluindo a China. O nosso estudo será de utilidade para as decisões empresariais e políticas mas também para todos os interessados num dos acontecimentos mais notáveis deste princípio de século: a entrada em cena de uma China que procura alimentar o seu desenvolvimento económico mas que, em consequência, poderá também projectar o desenvolvimento económico africano.
Considerando os objectivos desta pesquisa e a sua natureza exploratória seguiremos o método do “estudo de caso” para melhor se entenderem as questões essenciais subjacentes à investigação. Estudaremos duas empresas locais em cada um dos quatro países estudados e ainda duas empresas chinesas a operar nos PALOPs em questão. Estas empresas, já sinalizadas, são organizações de sucesso e, como tal, paradigmáticas. O modelo conceptual em anexo servirá de base à nossa análise e ajudar-nos-á a revelar padrões subjacentes a práticas localmente observáveis. Utilizaremos software específico para a análise de conteúdo de documentos e de entrevistas individuais e de grupo. Poderão também ser utilizados métodos quantitativos. Neste tipo de pesquisa, o número de sujeitos a estudar é em geral reduzido a fim de permitir o nível de interacção necessário para se chegar a um verdadeiro entendimento do fenómeno em estudo. A equipa fará das discussões intergrupo parte integrante do processo de pesquisa através de conferências online.