“A crise espoletada pela pandemia em 2020, (…) veio demonstrar no caso de Portugal (…), como a tecnologia pode ser a chave do nosso progresso enquanto sociedade”, afirma Mário Campolargo, Secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, na 1ª Conferência do SocioDigital Lab for Public Policy subordinada ao tema “Transformação digital em tempos de crise”, que se realizou no Iscte nos dias 28 e 29 de Novembro de 2022.

Durante a sua intervenção, Mário Campolargo mencionou ainda os planos do PRR para acelerar a transição digital, em particular das Escolas e das Empresas, e discutiu a sua visão de aproximar o cidadão dos serviços da Administração Pública através de políticas como a nova geração do Simplex, os canais digitais assistidos nas lojas do cidadão, a literacia e capacitação digital generalizadas, as estratégias para a igualdade e não discriminação, entre outras. Ricardo Paes Mamede, Diretor do Iscte-Sintra, realizou um discurso sobre o crescimento das tecnologias de Big Data, Inteligência Artificial e da adoção generalizada das redes sociais, com o fim da disponibilização mediada de informação e a emergência da maior concentração de poder pelas grandes corporações globais detentoras das plataformas digitais mais populares. Defendeu ainda que o futuro da transformação digital da sociedade passará pelos avanços normativos e tecnológicos na proteção da privacidade dos cidadãos, muitas vezes explorada pelas grandes plataformas. Michael Tjalve, Diretor de Inovação no grupo Tech for Social Impact da Microsoft Philanthropies, deu uma palestra intitulada “Digital Transformation in the Humanitarian Sector”, onde se debruçou sobre os desafios da transformação digital no contexto de organizações humanitárias não governamentais, dos quais destacou as limitações financeiras que não permitem investir em soluções de avanço tecnológico, mas que criam oportunidades para apoio nesse âmbito. Tjalve apresentou também diversas estratégias que têm sido adotadas na sua experiência de trabalho, nomeadamente no fornecimento de ferramentas e serviços em diversos cenários de crises humanitárias, como desastres naturais ou crises de refugiados, por exemplo. Essas ferramentas e serviços incluem formas de facilitar o contacto para responder a necessidades urgentes (como água ou alimentos), mas também para avaliar o impacto real dos danos causados por um terramoto, por exemplo, com recurso a Inteligência Artificial aplicada a imagens por satélite, ou ainda chatbots que dão suporte confidencial e interativo a mulheres em situação de violência doméstica, na sua língua.

O professor e investigador do Iscte, Miguel Sales Dias, membro da organização da Conferência e um dos coordenadores da linha temática “Digital Transformation” do SocioDigital Lab, faz “um balanço bastante positivo” do evento, salientando que a reflexão promovida “poderá servir de alicerce para o futuro da transformação digital podendo mesmo vir a aconselhar políticas públicas”, sobretudo considerando a importância de uma abordagem interdisciplinar para responder às diversas necessidades levantadas ao longo dos debates.

De 28 a 29 de novembro, a transformação digital em tempos de crise foi discutida em diversas mesas-redondas, com o contributo de peritos nacionais e internacionais através de uma abordagem interdisciplinar. As implicações de cada discussão serão compiladas em policy briefs com recomendações para informar a elaboração de políticas públicas e a tomada de decisão dos atores políticos.