Faleceu aquele que é considerado como um dos maiores futebolistas de todos os tempos, havendo quem o considerasse o Rei, faleceu Eusébio!

Ora Eusébio da Silva Ferreira, de seu nome completo, era filho de um angolano de nome Laurindo António da Silva Ferreira, de Malange, e de mãe moçambicana, D.Elisa Anissabeni, tendo nascido no bairro de Mafalala, na antiga colonial Lourenço Marques, hoje Maputo, capital da princesa do índico.

Como se sabe Eusébio começou em Moçambique a dar uns pontapés numa “trapeira” antes de entrar no Sporting de Lourenço Marques (SLM) depois de ter sido preterido pelo Desportivo, na altura sucursal das águias lisboetas, por não ter condições físicas aceitáveis…

Quando começou a singrar no SLM os dois mais importantes clubes lusos, o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal passaram a acompanhar o seu desenvolvimento e evolução futebolística e providenciaram a sua contratação.

Rezam as crónicas que o Benfica foi mais expedito e conseguiu a sua transferência. Como também rezam as mesmas e decanas crónicas que Eusébio se tornou no símbolo eterno do Benfica e, naturalmente, da selecção portuguesa.

E foi esta figura Humana tornada cidadão do Mundo e, particularmente, cidadão da Lusofonia – recordemos as ainda recentes palavras de Mantorras ao dizer que todos os africanos queriam ser como ele – teve o seu passamento físico na véspera do dia dos Reis.

É certo que Portugal se tornou no seu país de adopção. Mas mais certo é que Moçambique era o seu país de origem, país esse que ele nunca abjurou e que, por ordem de Samora Machel, numa altura em que a dupla nacionalidade já não era admitida – penso que nunca foi – pelo estado moçambicano, Eusébio recebeu a nacionalidade moçambicana.

Por isso não se entende como esta figura multinacional, esta personalidade mundial, este património lusófono, não teve a devida retribuição e o natural reconhecimento fúnebre do seu país de origem.

Portugal concedeu-lhe três dias de luto nacional e quase honras de estado no seu funeral; em Angola desde o semanário O País, através da sua revista Vida, com a rubrica a “ícones” homenageou Eusébio, o Jornal de Angola e o Jornal de Desportos dedicaram várias páginas a este ícone do Desporto, em geral, e do futebol, em particular, nas páginas sociais debate-se a sua origem angolana; Timor-Leste, através do seu primeiro-ministro, Xanana Gusmão, louvou-lhe as suas qualidades; São Tomé e Príncipe prestou-lhe homenagem através de um serviço religioso; Cabo Verde não se esqueceu de o elogiar através de diversas individualidades públicas e privadas; Guiné-Bissau, bom, com estes desde que não sejam sírios ou “farinha branca” nada devem saber ou comentar; sobre Moçambique, nada!, nada excepto as homenagens que os seus amigos pessoais e do bairro lhe fizeram e que agora pedem que seja erigida uma estátua no bairro em sua homenagem. Oficialmente só se ouviram palavras de circunstância do presidente Guebuza e do seu antigo companheiro de trapeira e antigo presidente Joaquim Chissano.

Mas, desculpem mas apetece mesmo dizer, PORRA! Eusébio foi um dos maiores contribuintes líquidos da FRELIMO (directa e indirectamente e como comprovam as estórias de Borges Coutinho, antigo presidente do Benfica, ter sido obrigado a controlar os gastos pessoais de Eusébio para que não ficasse sem dinheiro). Não merecia, pelo menos, um dia de luto nacional?

Sabe-se que Eusébio sempre amou a terra que o viu nascer. Como se sabe, através de uma informação televisiva, um dos seus desejos seria ser coberto com as bandeiras do Benfica, de Portugal e de Moçambique. No entanto, e durante o período que vi imagens do cortejo fúnebre e do enterro, só vi as bandeiras do Benfica e da Federação Portuguesa de Futebol. A de Moçambique só se vislumbrou uma ou outra em mãos de anónimos e a certa altura uma a meia-haste entre a de Portugal e a do Benfica no Estádio da Luz. Depois, depois deve ter voado com o temporal que se abateu em terras tugas…

Eusébio da Silva Ferreira, Eusébio, o Pantera Negra, o King, faria 72 anos no próximo dia 25 de Janeiro, dia que fará 10 anos que faleceu o então também jogador do Benfica, Miklos Feher, falecido em campo num jogo com o Vitória de Guimarães…

Eusébio foi um Cidadão do Mundo. Uma figura maior da Lusofonia. Um Património da Humanidade. Morreu aos 71 anos!

Este texto foi escrito a 7.Jan.2014 e também publicado no semanário Folha8, edição 1172, de 11.Janeiro.2014, página 28, sob o título “Eusébio merecia mais de… Moçambique”

 

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