O Brasil, o samba e o futebol
Cátia Miriam Costa, Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE – IUL
A menos de um mês do Campeonato Mundial de Futebol, o Brasil volta a captar a atenção mediática. São os atrasos na construção dos estádios, as questões de segurança e as manifestações que fazem as parangonas dos jornais e para os serviços noticiários televisivos.
A competir com este destaque dado a estes eventos no Brasil, só o Carnaval com direito a transmissões televisivas em direto.
E, afinal, o futebol e o samba não são importantes para a economia brasileira? Sim, são. Mas serão o mais importante para garantir o crescimento económico e a estabilidade social? Talvez o tivessem sido no passado, mas agora definitivamente não chegam. Proporcionam um efeito de catarse, é certo. Mas, passados os jogos e os desfiles do Entrudo, a vida do brasileiro médio não mudou. E foi essa consciência que tem vindo ao de cima na última década.
Os brasileiros estão informados do potencial do seu país, estão mais atentos às parcerias públicas/privadas e ao uso dado aos seus recursos. Saíram à rua por causa do aumento do preço dos transportes e conseguiram que o seu valor baixasse em 100 cidades brasileiras. Isto provou que não são as questões técnicas que estão a impedir o melhoramento das condições de vida da população. São as opções políticas que o têm feito.
O governo do Partido dos Trabalhadores tem procurado o consenso, o que foi positivo para a economia que cresceu e para a sociedade que estabilizou. No entanto, essa política consensual está a ser questionada devido à redistribuição da riqueza. O brasileiro médio percebeu que a sua qualidade de vida não melhorou. Os sectores mais favorecidos da sociedade enriqueceram e houve uma melhoria da capacidade aquisitiva dos estratos mais baixos da sociedade. Mas isso não se traduziu na redistribuição efetiva da riqueza num país em que todos os dias se ouve falar de novos recursos. Tampouco mais possibilidade de consumo se traduziu em mais qualidade de vida.
O poder ficou perplexo com as últimas manifestações. O mês de Junho é considerado o mês de jornada da demanda por melhores condições de vida, coincidindo com a realização do Mundial de Futebol. Maio já prepara Junho. As manifestações voltaram à rua. Mostram desagrado face ao sistema económico e político. A contestação deixou de ser ao partido do governo. É uma oposição ao modo como a política e a economia estão a funcionar.
O consenso não está a resultar? O consenso só resulta enquanto os vários grupos sociais entendem que todos estão a ganhar proporcionalmente com a sua vigência. Foi esse princípio de equidade que os manifestantes dizem ter sido perdido.
O Brasil é mais do que o país do futebol, do samba e das telenovelas. O Brasil é uma economia pujante e tem um poder político com ambição de se tornar potência regional. Passar do clube da via do desenvolvimento para o clube dos desenvolvidos e com crescimento económico traz novos desafios. Uma opinião pública desperta e consciente é um deles. Os brasileiros estão a afirmar que querem mais e que o futebol não chega. Por isso exigem um país e um poder político para si.
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