Foi notícia a hegemonia da língua inglesa, não como língua franca do quotidiano, mas como língua franca de negócios. Referia o artigo, denominado “The English Empire”, publicado no mês de fevereiro no blogue “Schumpeter”, do The Economist, que várias multinacionais tinham adotado o inglês como língua oficial de trabalho.

A notícia, não trazendo nenhum facto novo, demonstra a preocupação que os meios de comunicação social anglo-saxónicos continuam a ter na defesa e valorização da sua língua, apesar da sua hegemonia ser evidente. Já em outubro de 1965, a mesma revista publicava um artigo sobre a língua inglesa e o porquê de ter conquistado o mundo. Na altura, o seu argumento era em torno da simplicidade gramatical do idioma, do facto de ser falado em todos os continentes e de ser uma língua histórica na Europa. Hoje, o argumento é construído em torno desta língua se ter tornado na “língua global dos negócios”.

Contrasta esta atitude com a pouca atenção que é dada em Portugal à questão linguística, apesar de o português ser a língua mais falada em todo o hemisfério sul e de ter por si só valor económico. Estranha-se ainda mais este silêncio, quando neste momento decorre, no Parlamento Europeu, a exposição Potencial Económico da Língua Portuguesa, organizada pelo Instituto Camões, em pareceria científica com o ISCTE. O momento é apropriado para se pensar o valor da língua no mundo dos negócios e também no seio das instituições internacionais. Em 2050, os falantes de português deverão chegar aos 350 milhões de indivíduos.

Os dados parecem não motivar a discussão pública em torno do assunto, apesar de serem extremamente animadores. Os indicadores apontam para o aumento do valor económico do português. É já a quarta língua mais falada no mundo, a quinta mais usada na internet e a terceira mais usada nas redes sociais. Portanto, uma língua que tem acompanhado as possibilidades que a tecnologia oferece. A acrescentar, ainda, que é, a par do inglês, falada como língua materna nos cinco continentes. Igualmente, é de referir a sua importância em países que têm vizinhança com países lusófonos, sendo que na Argentina e no Uruguai se tornou mesmo idioma de ensino obrigatório.

Habituados a ver o português desde o continente europeu, pensa-se que é um idioma com pouco potencial. Mas na realidade é a terceira língua do mundo. A Europa, neste momento, não fornece os contingentes populacionais para manter qualquer língua no topo das opções internacionais, atravessando um declínio demográfico. O mundo dos negócios foi o primeiro a entender a necessidade de viragem a outras paragens.
O português representa atualmente 3,85% do PIB mundial, com possibilidade de crescimento. A partilha linguística permite aproximações a mercados vastos, facilita a compreensão da legislação em outros países e traduz-se no abaixamento dos custos de transação. Se é a área dos serviços que mais diretamente parece lucrar com a questão linguística, a verdade é que todas as áreas económicas podem ser beneficiadas. A valorização da língua não passa apenas por instituições oficiais, em que destaco a CPLP ou os vários Ministérios dos Negócios Estrangeiros dos países de língua portuguesa. Passa pela sua valorização no mundo económico, seja pelo acesso a quadros qualificados, seja pela partilha de tecnologia e informação. Esse é o papel da sociedade civil: tornar o português numa língua de negociação, como foi outrora língua franca. Apostar num idioma forte significa vantagens duradouras.

*Investigadora Centro de Estudos Internacionais – ISCTE -IUL