Ref.: SFRH/BD/65106/2009

Funding institution(s): FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologiac

Keywords: Níger, mulheres migrantes, redes sociais de apoio, tecido informal, saúde reprodutiva e materno-infantil, decisão terapêutica, pluralismo terapêutico

Abstract

Numa altura em a redução das taxas de mortalidades materno-infantis é uma das principais prioridades das agendas internacionais em termos de políticas a desenvolver com vista à melhoria de saúde pública global, interessa conhecer como essas diretivas são expressas nas vivências quotidianas das populações mais afetadas. Este projeto procura analisar os itinerários terapêuticos de mulheres migrantes temporariamente inseridas no tecido urbano de Niamey, relativamente a questões relacionadas com a saúde reprodutiva e materno-infantil. Mais precisamente, pretende-se compreender de que forma um conjunto de constrangimentos afeta a sua capacidade individual de ação durante o processo de construção de decisão terapêutica. Para além dos constrangimentos de ordem macro-estrutural cuja a origem remete para a profunda crise económica que assola a República do Níger, com múltiplas repercussões no mercado de trabalho e na qualidade dos serviços de públicos saúde disponíveis, pretende-se, igualmente colocar em evidência condicionantes de ordem infra-estrutural. Como este estudo se refere a mulheres oriundas do meio rural que partem temporariamente, normalmente durante a estação seca, rumo à capital, tenciona-se demonstrar que o processo de decisão terapêutica é igualmente tributário da capacidade de mobilização das redes sociais [translocais] disponíveis, através das quais se opera também a integração das mulheres na malha urbana. Estas redes serão então um lugar privilegiado de reprodução das relações de poder vigentes por via da socialização, em razão da sua extensão e coesão. E, por conseguinte, um mecanismo, por excelência, de transmissão de constrangimentos que possam influenciar direta ou indiretamente a decisão terapêutica. Além de condicionarem o sucesso económico destas mulheres, cujo o peso na decisão terapêutica não pode nem deve ser negligenciado, as redes sociais de apoio também permitem que determinadas representações acerca de saúde reprodutiva e materno-infantil se sobreponham às restantes durante o processo de negociação terapêutica. Por último, procura-se perceber até que ponto é que cada uma das decisões terapêuticas, que resultam destas complexas negociações, contribuem para uma efetiva melhoria das condições de vida destas mulheres, ou pelo contrário, concorrem para agravar a sua vulnerabilidade e precariedade.