Ativismos Feministas e LGBTI em África: relações entre colonialidade, heteronormatividade e patriarcado

P18 – Ativismos Feministas e LGBTI em África: relações entre colonialidade, heteronormatividade e patriarcado

Manuella Donato . Asces / UFPE
Vico Melo . Asces

Os estudos pós-coloniais e descoloniais têm contribuído para a problematização das bases sobre as quais se sustentam a constituição e a manutenção dos processos de colonialidade, que ultrapassam o período histórico de colonização e impõem ao chamado Sul Global um legado de exclusão e “outredade”. São identificados, nessa perspectiva, mecanismos de legitimação da dominação colonial que têm como referencial de universalidade uma civilização ocidental branca, androcêntrica, heteronormativa, capitalista e cristã. Dessa maneira, é denunciado o racismo e o sexismo epistêmico como formas fundacionais de imprimir inferioridade aos não-ocidentais, marcadas por uma retórica de legitimação da exclusão ontológica do “outro”. A invisibilização dos sujeitos que desafiam o patriarcado e a heteronormatividade pode ser compreendida, portanto, pela discussão acerca da colonialidade do ser, do saber e do poder, que resulta do sistema moderno/colonial estabelecido a partir da expansão europeia iniciada no século XV. Assim, convida-se a apresentação de trabalhos sobre ativismos feministas e/ou LGBTI nos diferentes contextos africanos, que atuem a partir do reconhecimento da imbricação entre patriarcado, heteronormatividade e colonialidade como regimes de poder que promovem e legitimam as desigualdades de gênero.


Papers

O processo de colonialidade, mundializado pela modernidade europeia através da África e das Américas, contribuiu para um modelo de sociedade internacional heteronormativa, patriarcal, machista, racista, LGBTfóbica e excludente, com base em hierarquias presentes nas relações sociais em questões de classe, raça e gênero. Este trabalho tem por finalidade apresentar vários estudos sobre gênero e sexualidade através da história bem como suas diferentes posturas sobre tais questões. A partir disso, busca-se apresentar a possível origem e trajetória, do que viria a se chamar de movimentos feministas, tanto no Norte quanto no Sul global, para através do arcabouço teórico dos Estudos Pós-coloniais, apontar como os feminismos ocidentais acabam reforçando a diferença colonial estabelecida entre o Norte e o Sul global. Neste sentido, busca-se apontar através da perspectiva Pós-colonial como as questões de gênero e sexualidade são alvo das colonialidades e como os feminismos ocidentais acabam reforçando a diferença colonial estabelecida entre o Norte e o Sul global.

Walkis Stwart Bezerra Alves . ASCES-UNITA . walkis.stwart@gmail.com

 

Neste estudo, investigou-se como a ativista somali Ayaan Hirsi Ali, em sua autobiografia Infiel, a história de uma mulher que desafiou o islã (2007), constituiu a si nos diferentes espaços entre África, Ásia e Europa, parindo de sua experiência afro-islâmica. Essa obra, no período de seu lançamento, alcançou sucesso de vendas no mercado editorial de diversos países, tendo como marca fundamental a fragmentada subjetividade contemporânea de uma imigrante que, ao renunciar ao Islã, empreendeu uma luta pela liberdade de expressão enquanto mulher, que lhe rendeu a condenação à morte por fundamentalistas muçulmanos. Neste estudo, contou-se com as referências teóricas de Joseph Ki-Zerbo (2010) sobre a história da África, com o estudo acerca das matrizes culturais africanas, de Amadou Hampâté Bâ (2003; 2010). Quanto ao espaço biográfico contemporâneo, utilizaram-se os conceitos de Leonor Arfuch (2010; 2013). Os estudos de Stuart Hall (1996; 2000) viabilizaram reflexões acerca das questões identitárias e diaspóricas. Os constructos de Edward Said (1990; 2003; 2005) foram acionados para tratar sobre as demandas identitárias no exílio e sobre o orientalismo. Néstor Garcia Canclini (2005) foi imprescindível na discussão sobre as culturas híbridas e sobre o local dessas culturas. Utilizaram-se, ainda, os estudos de Homi Bhabha (1991; 2005), entre outros, que contribuíram para a reflexão acerca dos espaços do eu de Ayaan Hirsi Ali construídos em Infiel.

 

EUMARA MACIEL . Universidade Federal da Bahia . eumaramaciel@hotmail.com

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