Donald Trump e a Guerra Contra o Clima

Uma Guerra Aberta Contra o Clima

Parece que já pertence a uma outra época, mas regressemos ao mandato de Barack Obama enquanto 44º Presidente dos Estados Unidos. Três dias antes da tomada de posse de Donald Trump, Obama tomou uma decisão para garantir o futuro do Acordo de Paris: transferiu 500 milhões de dólares para o Green Climate Fund da ONU. Os EUA acordaram, em Dezembro de 2015, doar a este fundo três mil milhões de dólares. Barack Obama já tinha doado 500 milhões de dólares em Março de 2016.

Desde que iniciou a sua campanha eleitoral para chegar à Casa Branca que Trump declarou guerra ao clima, tentando desacreditar cientistas e ambientalistas afirmando que as alterações climáticas eram, pura e simplesmente, uma invenção por parte dos chineses com a intenção de desestabilizar a capacidade industrial dos EUA, tornando-o menos competitivo. Na verdade, estudos comprovam que os seres humanos são a razão para o aumento do aquecimento global desde a década de 1950.

Começaram então a surgir as primeiras vítimas da era Trump: o US Centres for Disease Control and Prevention cancelou, de forma repentina, uma conferência sobre saúde e ambiente. De acordo com o jornal britânico Independent, a organização teve receio das represálias que poderiam advir por parte da nova administração. No entanto, Al Gore e a American Public Health Association decidiram avançar com a mesma cimeira em Atlanta (Georgia) já no próximo dia 16 de Fevereiro.

EPA e GreenPeace como protectoras do passado e esperanças do futuro

Uma das ambições de Donald Trump é terminar com a US Environmental Protection Agency (EPA), uma agência governamental fundada no início dos anos 1970, pelo Presidente Richard Nixon, para proteger e promover o meio-ambiente e a saúde humana. Os cientistas têm, inclusive, tentado salvaguardar todos os dados recolhidos ao longo de décadas de investigação para que a nova administração da Casa Branca não destrua por completo o que tem sido feito em prol de um planeta melhor. O director do Global Warming and International Environmental Policy na Competitive Enterprise Institute, Myron Ebell, referiu que, “the U.S. will clearly change its course on climate policy. Trump has made it clear he will withdraw from the Paris Agreement. He could do it by executive order tomorrow or he could do it as part of a larger package.”

No entanto, o (ainda curto) mandato de Donald Trump tem sido pautado por inúmeros protestos. Exemplo disso foi a acção desenvolvida pela GreenPeace no dia 25 de Janeiro. Um grupo de activistas escalou uma grua perto da Casa Branca, em Washington, e exibiu uma enorme faixa com a palavra de ordem “Resist”. São também vários os parques naturais norte-americanos que se têm juntado aos protestos contra a posição de Trump, depois de o Badlands National Park ter publicado no Twitter (e mais tarde apagado) vários factos sobre as alterações climáticas que contradizem o discurso de Donald Trump.

Oleodutos Dakota Access e Keystone XL

Apenas quatro dias depois de ter assumido a presidência norte-americana, Trump assinou dois diplomas para avançar com a construção de dois oleodutos: o Dakota Access e o Keystone XL. Pouco mais de um mês antes, inúmeros protestos e manifestações, que já duravam há largos meses, levaram Barack Obama a suspender a construção destes oleodutos, dado que não só atravessariam  solo sagrado para comunidades de americanos nativos (Standing Rock Sioux), como também poriam em causa a qualidade da água do rio Missouri. No comunicado official emitido pelos Sioux pode ler-se que “we wholeheartedly support the decision of the administration and commend with the utmost gratitude the courage it took on the part of President Obama, the Army Corps, the Department of Justice, and the Department of the Interior to take steps to correct the course of history and to do the right thing”.

Os confrontos voltaram a Standing Rock com uma novidade: Malia Obama, filha mais velha do ex-Presidente dos EUA, assumiu uma posição pública de apoio e veio demonstrar que também tem algo a dizer sobre o bem-estar dos cidadãos norte-americanos.

Políticas Bottom-up: O Poder da Sociedade Civil

Nas últimas semanas, tem-se assistido a um ressurgimento do activismo na sociedade civil norte-americana. Tudo começou com a Women’s March on Washington, mas tendo em conta os protestos diários e semanais a que assistimos, poderemos estar em presença de quatro anos de um activismo civil permanente. Irá Trump cumprir o Acordo de Paris e transferir os restantes 2 mil milhões de dólares para que se tentem reverter os efeitos das alterações climáticas? Ou estamos perante uma guerra climática sem precedentes, iniciada por um dos maiores poluidores a nível mundial? Quando se fala de alterações climáticas, fala-se de direitos humanos. Todos, sem excepção, têm algo a dizer e a fazer para que se respeite o planeta onde vivemos. Donald Tump deveria ser o exemplo, enquanto líder de uma das maiores nações do mundo. Uma coisa é certa: “of the many reasons that a slim minority of voters chose to elect a bombastic reality television star to be president of the United States, climate change was surely not high on the list”.

Inauguration Day protests. Photo by Julia DeSantis / CC BY 2.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Mónica Canário

Research Assistant at CEI-IUL. Ph.D. Candidate in Political Science, specialisation in International Relations (ISCTE-IUL).

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