Negócios do gás que podem incendiar a Europa

A energia é uma questão premente no seio da União Europeia. Foi a base da sua fundação. A CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), mãe da União Europeia e criada em 1951, nasce da necessidade de resolver a questão energética. A Europa vive desde esses tempos uma estabilidade até então desconhecida. É bom não esquecê-lo. Daí até à criação de um mercado económico comum deu-se um processo de entendimento político de longo alcance.

O maior gasoduto do mundo

A Ucrânia tem o maior gasoduto do mundo que transporta mais de 40% do gás que abastece a Europa. O gás natural é o 2.º combustível mais importante no seio da União Europeia. A dependência energética da UE tem aumentado desde os finais do séc. XX, importando hoje mais de 50% do seu consumo. O namoro da UE à Ucrânia não é, por isso, apenas uma questão de enamoramento. Tal como a corte que os EUA têm estado a fazer a este país (ainda mais num contexto de tentativa de validação económica do gás de xisto). Trata-se de uma necessidade para assegurar recursos, em que os interesses europeus não são exatamente coincidentes com os americanos. O transporte de gás natural do Mediterrâneo não tem atingido os níveis de fornecimento que permitam à UE diminuir a sua dependência face ao gás natural russo. A fragilidade sociopolítica dos países abastecedores desta zona, apesar da estabilidade que o Sul da Europa oferece para o transporte de gás, pode comprometer esta opção.

Ucrânia, fronteira entre a Rússia e a Europa Central

A Ucrânia tem sido a fronteira entre dois mundo e duas conceções políticas. Um dos escritores mais famosos ucranianos, Gógol, nasceu sob o domínio do Império Russo, num tempo em que a Ucrânia estava dividida entre Russos e Polacos. Gógol recebe as influências intelectuais russas, mas a sua obra recheia-se de referências ucranianas. Quantos ucranianos terão vivido experiências semelhantes? Ali as divisões entre comunidades são históricas e delicadas, dificilmente solucionáveis com as eleições presidenciais ou com investidas musculadas.

E que tem Portugal a ver com esta crise?

O que se anuncia é uma crise energética na Europa associada a uma escalada de violência civil e militar na Ucrânia. Portugal, como membro da UE, estará diretamente envolvido nas duas. Afinal as opções de negócios da EU também têm uma marca portuguesa e esta disputa do gás pode incendiar rapidamente a união. Quer isto dizer que é um assunto que diz respeito a todos nós e por várias razões. Dando voz a esta necessidade, hoje debate-se no ISCTE-IUL a   Crise na Ucrânia: Reconfigurações que vêm de Leste  , ou seja, que virão dessa Europa distante e que passam ao lado da opinião pública portuguesa. Esta será uma oportunidade para poder formar opinião, já que ali vão estar representadas diferentes perspetivas, apresentadas por diversos especialistas em distintas áreas, mas todas conectadas a este problema.