Património: memória ou ideia de futuro?

Por Cátia Miriam Costa, Investigadora do Centro de Estudos Internacionais – ISCTE-IUL

O património é um investimento com retorno, tanto ao nível económico como social.
Os números divulgados acerca das atividades diretamente ligadas ao tema demonstram-no. O The Telegraph noticiava em julho de 2013 que, desde 1994, tinham sido investidos 5,5 milhões em 35 000 projetos de património. A mesma notícia informava que, em 2011, o turismo ligado ao património gerava 26,4 mil milhões de libras para a economia, mais quase 6 mil milhões do que tinha sido apurado para o ano anterior.

O World Bank refere o livro The Economics of Uniqueness como contributo para o estudo da valorização económica do património.

Em 7 de março deste ano, o Architects Journal reportou-se a um novo relatório que calcula que o corte do IVA nas atividades de reabilitação poderá reforçar em 5 milhões de libras a economia britânica, salvando património e criando 95 000 empregos (diretos ou indiretos).

Evidentemente, estes números referem-se a uma economia com uma dimensão pouco comparável à maioria dos países, em que se inclui Portugal. Mas também por cá o olhar sobre o património tem vindo a alterar-se. Testemunho disso é o encontro organizado pela Direção Regional de Cultura do Norte, intitulado “Património cultural: economia e emprego”, realizado no Porto, em outubro do ano passado. No mesmo mês realizava-se a Feira do Património no Museu de Arte Popular, anunciando-se para outubro deste ano a sua repetição, a realizar em Guimarães.

A European Expert Network on Culture publicou um relatório, em julho de 2013, intitulado “The Social and Economic Value of Cultural Heritage”, refletindo sobre a possibilidade de criar sinergias entre o valor económico e social do património e o futuro. O relatório tem em conta o entorno social, como a importância de se estar em presença de sociedades do conhecimento e informação, as novas indústrias criativas ligadas ao elemento patrimonial e o potencial de inovação do património na construção de um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.

Outro aspeto considerado é o dos diversos stakeholders cuja participação é determinante (profissionais da área patrimonial, decisores políticos, comunidades locais e empresários). Conclui o relatório que o património tem valor económico e social para o presente e para o futuro.
Que a sociedade civil e o mundo empresarial podem trabalhar em conjunto com excelentes resultados não há dúvida. O Instituto de Ciências do Património, em Santiago de Compostela, é exemplo disso, sendo o primeiro spin off de um projeto de ligação do meio universitário às empresas nesta área.
Que o tema está na ordem do dia, é certo. Mas estaremos, enquanto sociedade, a tirar proveito de toda as suas potencialidades? O património contém um elemento de memória, mas também uma ideia de presente e de futuro. Nesse sentido, permite a reabilitação do património material (como um monumento) e a recuperação de património intangível (como uma comida tradicional).
Está comprovado que gera negócio nas áreas do turismo, estimula os setores da reabilitação de edificados e das indústrias criativas. Mas proporciona, ainda, que se gizem novas estratégias para heranças patrimoniais comuns, como acontece com o caso de antigas metrópoles e colónias (sobretudo, no caso das coleções e dos monumentos). Contribuir-se-ia, assim, para a valorização da interculturalidade e respeito mútuos, tão necessários quando as relações económicas são essencialmente internacionais e, algumas vezes, baseadas em laços históricos e culturais.